terça-feira, 28 de abril de 2009

Dizer não

A dificuldade para “dizer não” parece ser um problema comum para as mulheres. É compreensível; fomos ensinadas a ser “boazinhas” e a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance, para agradar aos demais. Nos foi incutida a noção de que nosso valor, o apreço por nossa pessoa, só é possível se nos esforçarmos por agradar, por ser complacentes e estar sempre disponíveis - para todo mundo, o tempo todo.
E dizer não, mesmo que seja de vez em quando, não parece ser uma boa forma de agradar às pessoas; mesmo que esse “não” esteja plenamente justificado. O resultado disso é que a mulher se dessangra na tentativa de ser aceita, dizendo “sim” o tempo todo, por mais abusivo ou absurdo que seja o pedido. E o pior de tudo, é que esse comportamento não dá o resultado esperado: quanto mais complacente a mulher se mostra, na esperança de ser aceita e valorizada, mais ela é desprezada, espezinhada e abusada pelas pessoas que a rodeiam.

Soa familiar? Você precisa aprender a dizer não. - A mim sim!
Não é fácil aprender a dizer não, não é, mas pode-se tentar:

1 - Saiba o valor que você tem.
Uma das primeiras coisas dar o valor exato às coisas, nem mais, nem menos. Isso deve ser aplicado à tudo, desde pessoas até objetos, e começa pelo valor que damos a nós mesmas. Claro que isso requer auto-conhecimento, clareza, trabalho interno.É necessário trabalhar sua auto-estima, e ter o ego sob contrôle. O objetivo não é se tornar uma mulher prepotente, arrogante, cheia de si, mas ser uma mulher que tem plena consciência do valor que tem, e de como merece ser tratada. Esse trabalho interno deve ser constante.

2 - Estabeleça limites.
Sabendo o seu valor, e se conhecendo, você sabe até onde pode ir, que tanto pode oferecer de si em cada momento, e onde estão os limites que não devem ser ultrapassados, temos o direito de dizer “não“, “não posso“, “não quero“, “não estou a fim“, “dessa vez não” e outras coisas assim. E que ninguém tem o direito de lhe explorar, mesmo que você tenha se deixado explorar até o dia de hoje. Quando você resolver dizer “Chega”, quando você começar a dizer não, as pessoas ao seu redor vão reclamar. Elas estão acostumadas a obter de você tudo o que desejam, do jeito que desejam e no momento que desejam. Elas vão tentar lhe chantagear, fazer sentir culpada, dar a entender que você está sendo má, com o objetivo de lhe convencer a continuar dizendo sempre sim. Não se deixe levar.

3 - Dê-se tempo para pensar.
Nem que sejam 10 minutos. Evite a pressa de responder, e não se deixe pressionar para dar uma resposta instantânea. Dificilmente um pedido é tão urgente que seja necessário que você responda no mesmo segundo. Acostume-se a dizer “Me dê 10 minutos. Vou pensar e já lhe respondo“. E NÃO ACEITE que o outro se escandalize ou ofenda porque você não disse “sim” automaticamente. Você tem todo o direito de pensar, avaliar e refletir antes de aceitar alguma coisa. Se ao cabo desses 10 minutos você não tiver certeza de qual deve ser sua resposta, avise: “Olha, eu ainda não consegui decidir, vou refletir um pouco mais e assim que tiver resposta eu aviso“. Quanto mais importante for a questão, mais tempo você deve se dar para refletir.

4 - Coloque as coisas em perspectiva.
Um bom truque é inverter os papéis: imagine que fosse ao contrário, que fosse você quem estivesse fazendo o pedido, e a outra pessoa estivesse no seu lugar e situação.
Você acharia certo fazer esse pedido, essa exigência? Se a resposta for negativa, se você acharia errado pedir isso, se acharia que está abusando do outro, pode dizer não a ele. Porquê? Porque evidentemente há algo de errado aí. Uma relação saudável deve ser uma estrada de mão dupla. Se estaria errado você pedir isso ao outro, provavelmente está errado que peçam isso pra você. Você merece tanto respeito e consideração quanto qualquer pessoa que esteja perto de você. Jamais permita que lhe convençam do contrário.

5 - Seja objetiva.
Pergunte-se:
- Eu quero dizer sim?
- Eu posso dizer sim? A que custo? O que isso vai me custar em tempo, esforço, energia, desgaste emocional, etc?
- O pedido é abusivo? É errado de alguma forma?
- Que justificativa OBJETIVA há para que eu diga sim? É algo realmente necessário, imprescindível, importante?
- Que justificativa emocional há para que eu diga sim? Desejo de agradar, medo de ser castigada ou receber retaliações caso eu diga não, hábito de dizer sim?

E por aí vai. Questione seus motivos, os motivos do outro, e seja tão objetiva e realista como puder. Procure deixar as emoções (principalmente a chantagem emocional) de fora da equação.

Até que habitua-se ao método, e ele passa a ser quase automático; a partir daí, todos os pedidos passam por esse crivo de forma fluída, e as respostas surgem de forma intuitiva, sem tanta ginástica mental. Se você praticar esses questionamentos, cairá em situações abusivas com muito menor frequência, e após um tempo os pedidos abusivos deixarão de chegar - depois que as pessoas perceberem que você já não se deixa abusar. Claro que há pessoas sem noção que nunca vão perceber que você não aceita mais abusos, e pessoas que ainda não conhecem você, e tentarão abusar. Geralmente, são pessoas que costumam abusar e aproveitar-se de todas as pessoas que as rodeiam, sempre que têm oportunidade. Com certeza você conhece (ou ainda vai conhecer) pessoas assim. Por isso é importante manter-se sempre alerta, ter essas coisas presentes o tempo todo - acostumar-se a que cada pedido de alguma coisa seja um disparador desse processo. (Estou falando de pedidos de um certo nível de seriedade, não do tipo “Me passe o saleiro, por favor“)

Dá trabalho, e é um trabalho que deve ser feito durante a vida toda. Mas acaba com 99% dos abusos que aceitamos. Para quem está com preguiça ou acha ruim ter que fazer alguma coisa durante a vida toda, deixo uma frase que me ocorreu há pouco tempo (parafraseando uma frase famosa), e que é uma das coisas mais verdadeiras que já percebi na vida: “O preço de qualquer coisa que valha realmente à pena, é a eterna vigilância.”


in: Deusario

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